30/05/08

VIII



tudo é familiar
neste habitado de ruas arruinadas
e lâmpadas ociosas
onde já os pássaros não fazem ninho
nem os rios se encontram

caminhos onde pousa devagar a respiração
e a solidão grita debruçada
todas as tardes

do outro lado
o amor acolhe-se em palpitação
dentro do sangue puro dos olhos
que derruba os porquês




Maria Costa

27/05/08

VII





onde os ventos convergem vozes
as crianças correm para o mar
arrastando o corpo perturbado
no umbral do tempo

o que sobrou fecundo no ar
as dores da terra






Maria Costa

24/05/08

VI





as casas interrogam o silêncio
por dentro
a morada mais antiga



Maria Costa

22/05/08

V




e vamos entoando
o espaço das sílabas semeadas de lírios
em melodias suaves que se movem
intensas
soltas
no lugar onde os ulmos
fazem frondoso o vento
ao despontar do dia



Maria Costa

18/05/08

nesse lugar



éramos da mesma idade
desci laçando-te o braço
era silêncio e espaço
uma escada de céu e pássaros
uma escala que cantava
em cada oitava

agora o vazio por degraus

foi breve a nossa longa viagem
eterna

regresso durando humana




Maria Costa

16/05/08

IV




na frescura da manhã
acontece

a palavra renovada





Maria Costa


12/05/08

III




mais interior que um coração




rostos apagados das casas
que hão-de espalhar pétalas de rosas

no fim do mundo





Maria Costa

08/05/08

II




as estrelas alumbram
o chão dos teus ombros

o silêncio desce
des
ce

penumbra de um tempo
sem espaço – leve
muito leve



Maria Costa