10/09/09

XLVIII



deixemos
a conformidade oculta
da escritura nunca refeita

conquistada pelo vento
deixemos
a conformidade de quem escreveu na areia
o eternamente indecifrável



05/06/09

XLVI


vim dizer adeus
apagar todos os nomes
do cansaço de minhas pálpebras

somente me deixo transparecer
e não sei mais como se escreve
o que já não se tem tempo para escrever

venho dizer adeus




09/05/09

XLV



descer pelos dias
longe de tudo o que pese e canse

entre as rosas do mar



20/02/09

XLI


"há vidros partidos na casa ao lado"
disse-o, num verso, Maria Azenha

aquele que ali vive
sabe em que piso o coração humano habita

e desce,
desce devagar buscando-se entre os outros
ali estão todos

é um claro sinal de alarme
um velho desígnio do poeta
que conhece a ferocidade dos punhais

não que o poeta ame o punhal
mas entende a sua beleza



18/02/09

XL


- incêndio -


em noites de estio
nada mais pode haver dessa arquitectura
solar

a sacra beleza das luminárias




01/02/09

XXXIX



digo
um caminho d' água
essa rota extraviada de navios
que buscam cidades
de bruma


o silêncio

sem esquecer a chuva



23/01/09

XXXVIII


um caminhante pela beira
outonal da água

canta de novo o amor

enquanto o tempo é tecido
à direita dos relógios



Maria Costa

18/01/09

XXXVI


a mulher se inclina a cada
manhã
sua face reveza com o sol

orfãos de terra
são seus olhos

nela não há lugar


Maria Costa

11/01/09

XXXV


escrevo deste país estrangeiro
do supremo instante das horas em que o mundo
morre de sombra

em ambas as margens do caminho
que faremos com os pássaros?

talvez os deixemos voar e percorrer a casa

com as mãos
sem extremos para o amor


Maria Costa

XXXIV


quando forem ter contigo passageiros das horas junto à sombra

não esqueças a quietude errante
que perdura a teu lado


Maria Costa

04/01/09

XXXIII


pressinto a curva oculta do planeta
a contraluz das mãos que agito
repletas de pó sangrento

olhos mudos,

frios,
ouvidos na morte sem imagem


os homens nada sabem da Vida


Maria Costa