29/06/08

XIV


a árvore amanhece todos os dias
existe rasgando o horizonte com passáros-de-papel
como se tivesse um coração que enche a consciência sombria dos homens
que a circundam em profundo quietismo

capaz de derramar o ar com um gesto




Maria Costa

25/06/08

XIII


desde as distâncias uma voz
abrindo-se em caminho
de sede e infância

bailado dos dias caídos
que se afundam sobre a terra

igual ao tempo indelével
da mão sobre os ombros exaltados
da memória



Maria Costa

18/06/08

XII




quando não existe o mundo
semeio jardins no meu quarto

em opostas águas
desconhecidas palavras
florescem no coração de ninguém



Maria Costa

13/06/08

XI



caminho com a esperança
de não ser a voz de ninguém




algo menos que fogo
tem que haver
para dizer esta ardência

a palavra não pode ser algo
tão fácil
traçando lentamente espirais
sobre a água calma
ou
como um sol
cego por si mesmo


Maria Costa



06/06/08

X





não sinto outro descanso
nem procura
chove sobre meus olhos
da tua boca amanhecida
muda como ferida

dir-se-ia que há dias em que tanto mel
me embriaga

outro perfume nasce em mim




( por contágio do poema de Maat - "de regresso a casa" )

Maria Costa