29/09/08

XXVI


abeiro-me agora dos rios ocultos
vestida de solidão para reconhecer a terra

busco no brilho das águas minha sede
pertenço a esse silêncio
onde a chuva deixou assomar flores,
neste território em que a solidão habita deuses

cresço luz de um sonho antepassado
alimentado na paz dos pássaros

queda de folhas lúcidas

essência das palavras
entre os dedos do fogo





Maria Costa

16/09/08

XXV


vi-me nascer, crescer, sem ruído
sem galhos que doam como braços
calada

sem palavra para ferir no ventre




Maria Costa

XXIV


não pertencer a ninguém
ser água na água
retornar com os círculos da pedra
que desce à íntima escuridão

sem voz, tornar-se círculo

amar
como devem amar os gerânios
as crianças e os cegos



Maria Costa

XXIII


existe uma solidão no espaço interior do inconsciente.


Maria Costa

03/09/08

o mundo parece irreconhecível...



talvez tenha vindo nesta viagem para te respirar no vazio das árvores. depois do temporal. foi na tempestade que cresci.
habituei os ouvidos à voz quando descia pelas escadas da noite.
há uma linha de névoa longínqua que parece recolher todas as linhas que existem à tua frente…
canta na catedral.






Maria Costa

02/09/08

tapeçaria de luz



“Tudo me impele para a Luz. Vivo esta inquietação terrível de não conseguir responder a ninguém, a nenhuma carta, a nenhuma coisa, dentro do tempo... tantos os sinais que me chegam durante a noite... “



partilhamos a dureza da Luz sobre os dias
descendo o poço que há em nós
saudei-te naquele que passava
em grandes estátuas de silêncio




“Era ainda pequena, regressava do mar, e tudo estava à mesma distância dos nomes”



o marulhar do oceano soltou o peso da respiração
e encontrou uma margem para descansar
como náufrago que deixa de acreditar
desliza na multidão de olhos fechados


“Antes, estava só.Hoje, ainda mais só, por imaginar Tudo.”



afasta as ramagens,
empresta-lhes todas as vidas que tiveres.
possam resgatar os regatos da Luz






Maria Costa


01/09/08

XXI


névoa de águas anteriores

lembrança de um mar
que não cabe na pupila de deus




Maria Costa